Querido Tobias,
Tu, a Pilar e a Ameixa ensinaram-nos tudo o que sabemos sobre ser padrinhos.
Depois de vários passeios de verão quente pela estrada movimentada perto do canil, sentaste-te e simplesmente te recusaste a dar mais um passo! Querias ir de carro e por isso começámos a aventurar-nos mais longe, da Quinta São Lourenço à Praia do Almoxarife e até mesmo ao Parque da Falca e muito mais. Sempre insistias em sentar-te na frente do carro, e nos passeios a pé recusavas-te a andar à trela.
Não deixavas a deficiência que sofreste por causa do atropelamento te impedir de participar em todos os passeios que fizemos ao longo dos anos. Eras tão corajoso e tão gentil. Não havia um cão ou um gato que não gostasse de ti.
Entretanto ficaste assustadoramente magro à medida que envelheceste, a ração do canil não era muito do teu agrado. No desespero oferecemos-te vários pratos, como se fosse para o crítico de cozinha mais exigente. Chegavas até mesmo a recusar as marcas mais caras, mas ao mais leve cheiro de um animal morto, corrias como Usain Bolt para a vegetação rasteira para devorá-lo!
Quando te aproximaste a passos largos do fim da tua vida, aos dezassete anos, vieste ficar connosco, como já tinha acontecido várias vezes antes, quando não estavas bem. Já éramos amigos há cinco anos e adaptaste-te facilmente, terminando os teus dias em conforto e paz. Foi a mais difícil das despedidas, mas partiste sabendo que eras amado, não só por nós, mas por todos os voluntários que te conheciam.